sábado, 13 de setembro de 2008

Superlotação compromete IJF


ATENDIMENTO
Superlotação compromete IJF


Situação caótica: na manhã de ontem, 21 macas estavam dispostas na entrada da emergência aguardando atendimento na unidade. Nos corredores, as filas de pacientes em cadeiras de rodas e macas se prolongavam (Foto: Patrícia Araújo)
No mês de agosto, 977 ambulâncias de vários municípios do Estado transportaram pacientes para o IJFO fim de semana se aproxima e junto com ele aumenta o número de atendimentos na emergência do Instituto Dr. José Frota (IJF), em Fortaleza. Todas as sextas-feiras a demanda de pacientes aumenta, os corredores da emergência ficam mais lotados que de costume e a população reclama da demora no atendimento.Da zero hora às 11 h da manhã de ontem, 212 pessoas foram em busca de atendimento na emergência da unidade. Somente no período da manhã, 21 macas com pacientes estavam dispostas na entrada da emergência do hospital. Nos corredores, as filas de pacientes em cadeiras de rodas e macas se prolongavam.No último fim de semana, das 19 horas da sexta-feira (dia 5) às 7 horas da manhã da segunda-feira (8), 840 pessoas foram atendidas no IJF.AgravamentoA situação não é novidade, seja para quem trabalha ou precisa do serviço do Frotão, mas tem se agravado nesse período. De acordo com o diretor da emergência, Rommel Araújo, a vinda de pacientes sem referência ou contra-referência, quer dizer, que não passam pela Central de Regulação de Leitos do Estado, é um dos fatores para esse aumento da demanda no hospital.Somente no mês de agosto, 977 ambulâncias de vários municípios do Estado transportaram pacientes para o IJF. A maior parte delas, observa Rommel Araújo, veio por conta própria, sem referência e sem passar pela Central de Leitos. Isso sem contar os pacientes que vem por iniciativa própria em carros particulares e aqueles trazidos pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).“Os pacientes chegam sem nenhum tipo de referência. São pacientes graves transportados sem condições adequadas e que, muitas vezes, vão a óbito ou têm o estado de saúde agravado por conta disso”, observa o médico. Segundo ele, as macrorregiões de saúde de Sobral e Juazeiro não estão atendendo à população de forma satisfatória na área de média complexidade, o que resulta na transferência de pacientes para as unidades públicas de Fortaleza.Foi pela incapacidade de atendimento dentro do município onde mora que o aposentado Clóvis Correia Lopes, de 79 anos, veio para Fortaleza. Ele teve um acidente vascular cerebral (AVC) e ficou internado no hospital municipal. Diante da gravidade do caso, Clóvis foi encaminhado para o Instituto José Frota e há três dias espera, no corredor da entrada da emergência, um leito, onde ficará internado por 30 dias, segundo recomendação médica.“Falta criar um mecanismo de hierarquização desse atendimento em que as referências funcionem de forma correta”, avalia Rommel Araújo. O diretor da emergência do Frotão observa ainda que a falta de médicos nas especialidades de clínica geral; obstetrícia e ginecologia; pediatria e traumatologia, aliada à carência de centros de imagem, laboratório de exames 24 horas e bancos de sangue contribuem para que os hospitais municipais e mesmo estaduais do Interior enviem pacientes para a Capital.Além de todos esses problemas na rede de saúde do Ceará, às vésperas das eleições municipais, uma outra prática colabora para a superlotação do hospital de referência em traumatologia.De acordo com Rommel Araújo, muitos pacientes chegam à unidade em ambulâncias e carros particulares disponibilizados por candidatos. Prática essa que reforça a cultura de procurar o IJF antes de outra unidade, sabendo que lá o problema será resolvido. REPASSEEstado aumentou valor das verbasO aumento da contrapartida estadual para o IJF foi uma das soluções a curto prazo encontradas pela Secretaria da Saúde do Estado (Sesa) para compensar a alta demanda de pacientes vindos de outros municípios do Ceará. De 200 mil, o repasse passou para 400 mil por mês.Outra medida adotada pela Sesa, segundo o secretário executivo da Saúde do Estado, Arruda Bastos, é a identificação dos municípios que mais enviam pacientes sem referência. “Estamos reforçando o trabalho junto aos gestores dos municípios sobre esse fluxo indevido”, afirmou. Aliado a isso, ele afirma que os hospitais-pólos estão recebendo cada vez mais incentivos para que os pacientes não precisem migrar.Mensalmente são gastos em torno de R$ 4 milhões com os hospitais-pólos. Todos esses problemas fazem parte das discussões periódicas do Fórum das Urgências e Emergências do Estado. Apesar da realidade do IJF ser de aumento da demanda de pacientes, Arruda Bastos garante que a médio prazo essa situação será resolvida. A aposta do Estado é a construção dos hospitais terciários do Cariri e de Sobral e das 21 policlínicas.O Hospital do Cariri, porém, só ficará pronto em 16 meses e as dez primeiras policlínicas deverão estar funcionando em breve com a disponibilidade de recursos do tesouro estadual. “O que estamos fazendo é um projeto novo de reestruturação da saúde do Estado”, afirmou. Além disso, mais dez unidades do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) deverão estar atuando em outras regiões, o que, para o secretário executivo será mais uma forma de controlar a vinda de pacientes para Fortaleza.“Queremos resolver definitivamente essa situação para que os pacientes fiquem em suas regiões”, garante. No âmbito da regulação, completa Bastos, foi investido também na capacitação dos profissionais da Central de Regulação de Leitos e no diálogo com os gestores da saúde, na tentativa de fazer com que o sistema funcione.Na teoria, 80% dos pacientes deveriam entrar no sistema de saúde através da atenção primária, 12% pelas unidades secundárias e somente 8% pelas unidades terciárias.

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