quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

187.227 atendimentos no IJF em 2008





O atendimento do IJF é desvirtuado por uma demanda absurda de casos não adequados ao seu perfil (Foto: Igor Grazianno)

OMS recomenda menos de 80 mil atendimentos/ano em unidades terciárias. IJF teve 187.227, em 2008Um 2008 difícil e um 2009 de preocupações. É o que constata o superintendente do Instituto Dr. José Frota (IJF), Wandemberg Rodrigues, num balanço de atividades e em perspectivas para o ano. Para se ter uma idéia, a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que, num hospital terciário como o IJF, o número de atendimentos não deva ultrapassar 80 mil por ano, exceto em situação de conflito ou de calamidade pública. Mas, mesmo não tendo se enquadrado em nenhum desses cenários, o Frotão, em 2008, teve 187.227 atendimentos.Por ser hospital terciário, o sensato seria que recebesse apenas casos graves, como traumatismo craniano, mas, desse total, impressionantes 90,5% dos atendimentos feitos no ano passado não se enquadraram no perfil da unidade de saúde. “Ou seja, são pacientes que não deveriam ter vindo para cá, mas sim, atendidos em unidades secundárias e até primárias”, conclui o superintendente do hospital.Ainda dentro do universo de adequação de atendimentos, têm deixado aflita a direção do hospital as transferências. Em 2008, o IJF conseguiu transferir para hospitais secundários, como Gonzaguinhas e Frotinhas, 1.588 pacientes, bem inferior aos 2.678 de 2007. São 449 pessoas que chegam todos os dias à unidade. Desse universo, 50 são recebidas. Dessas, 37 ficam internadas e quatro são transferidas.Numa conta rápida, dá para deduzir que nove acabam ficando para receber atendimento na Emergência. Primeiro, porque o hospital não tem mais como absorver e, segundo, as outras unidades não podem ou mesmo não querem receber, diz o gestor do IJF. “Por essa razão, a Emergência é sempre lotada”. Não bastasse isso, há ainda a prática da transferência de pacientes do interior.“Motivos? Unidades de saúde sem estrutura nos municípios ou politicagem de baixo nível de gestores irresponsáveis que mandam gente para cá em troco de voto”, afirma. Para ilustrar, em 2005, 41,1% dos pacientes atendidos no IJF foram do Interior. Ano passado, o percentual subiu para 45,6%.Situação ainda pior se apresenta quando o assunto é internamentos, pois 63% deles foram de pacientes de outros municípios, especialmente da Região Metropolitana.Além dessas preocupações, exigiu, em 2008, muitos esforços da equipe do Frotão, o número crescente de lesões por armas de fogo, que resultou em 1.618 atendimentos, ultrapassando incidentes envolvendo bicicletas (1.502) e casos de Acidente Vascular Cerebral (AVC) (1.464).De 2006 para cá, as estatísticas mostram também que as lesões por arma de fogo vêm superando as por arma branca. Só em 2008, por exemplo, o IJF prestou atendimento, numa média diária, a 4,4 pacientes vítimas de lesões por arma de fogo contra 3,3 por arma branca. “Reflexo da violência urbana que tem como cenário de fundo o uso abusivo de bebida alcoólica e de drogas ilícitas. Sem contar que esse tipo de lesão (por arma de fogo) tem maior gravidade, o que gera, entre outros, maior tempo de internamento”, destaca.No trânsito, só o mês de dezembro de 2008 concentrou 557 atendimentos a vítimas de acidentes de moto, uma média diária de 18. Foi o maior registro desse tipo de atendimento em um único mês desde 2000. No ano, dos 5.223 pacientes atendidos, dez morreram. ÊXODO DA SAÚDESem solução em outras unidadesIndependentemente do público, por que as pessoas vão direto para o IJF? De pronto, responde o superintendente, Wandemberg Rodrigues: “Porque não estão encontrando solução em outras unidades de saúde. É o famoso êxodo da saúde”.E isso, na avaliação de Wandemberg, só tende a trazer prejuízos, tanto para o sistema quanto para a população. “Para os pacientes, vai produzir segregação, porque as pessoas, aqui, ficam distantes de casa, da família. Além de transtornos como os financeiros, pois o paciente, muitas vezes, é o único provedor da família”.Para o sistema, especialmente no caso do IJF, a conseqüência é a superlotação. Em relação a outras unidades de saúde, leitos ociosos e desperdício de investimento público. “As pessoas não acreditam que a unidade secundária ou a primária funcionem porque não vivenciam isso no dia-a-dia. Em outras palavras, se eu não consigo fazer um exame de sangue ou uma radiografia numa unidade dessa, eu corro para o IJF porque eu acredito que lá vou conseguir”, explica.Queda da própria alturaDentro de incidentes individuais, as quedas de idosos têm destaque nos atendimentos do IJF. “Principalmente, as pessoas que caem da própria altura e fraturam um dos fêmures”, exemplifica o superintendente. No ano passado, foram 1.508 casos, enquanto, em 2007, foram 1.390.“As outras unidades de saúde alegam que não querem receber esses idosos porque são muito caros e o que o SUS paga por eles não compensa. Além disso, os hospitais dizem que, num pós-operatório, o risco é alto de o idoso precisar de UTI (Unidade de Terapia Intensiva). Diante disso, eles acabam parando aqui”, explica.Para Wandemberg, o poder público precisa entender que a população está envelhecendo e que, por isso, são urgentes investimentos para prestar o devido atendimento específico a essas pessoas.“Em 2009, mais idosos vão cair e isso vai contribuir para superlotar o IJF que, até então, não tinha de se preocupar tanto com esse grupo, tendo em vista que não representava uma fatia tão significativa de atendimentos”, afirma.
Ludmila WanbergnaRepórterATENDIMENTOS5.223 acidentes com moto4.278 queimaduras3.479 acidentes de trabalho3.335 agressões físicas2.963 atropelamentos2.519 abalroamentos2.111 picadas de animais peçonhentos1.618 lesões por arma de fogo1.464 AVCs1.217 lesões por arma branca187.227 atendimentos no total.
Fonte: IJF

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