sábado, 17 de março de 2012

Fortaleza precisa de outro hospital



17.03.2012
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Com 434 leitos, o Frotão não tem mais para onde expandir, diz o diretor da unidade
FOTO: NATINHO RODRIGUES
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Segundo portaria do Ministério da Saúde, a Capital deveria ter 142 postos, mas só tem 92. Equipes do PSF também são insuficientes
FOTO: MIGUEL PORTELA (24/04/2011)
Com unidades lotadas, operando no limite, esta seria a solução para o problema da saúde, segundo diretor do IJF

Às vésperas de mais um feriadão, a situação de superlotação dos hospitais terciários de Fortaleza, que se tornou rotineira, continua caótica. Para se ter uma ideia, 78 pacientes estavam, ontem, nos corredores do Instituto Doutor José Frota (IJF). No Hospital Geral de Fortaleza (HGF), eram 73. É como se os corredores tivessem se tornado espaço fixo de leitos hospitalares.

Na atenção primária e secundária o cenário de superlotação é o mesmo. Neste contexto, qual seria a solução para a questão da saúde pública? Criar mais leitos hospitalares? Contratar mais profissionais de saúde? Aumentar o número de postos e de hospitais secundários?

Na visão de Messias Barbosa, diretor do IJF, a única saída é a construção de outro hospital de urgência e emergência de alta complexidade na Cidade. O gestor destaca que Fortaleza, que é a 5ª capital mais populosa do Brasil, não pode dispor apenas de um hospital do porte do IJF.

O Frotão possui, ao todo, 434 leitos e realiza, em média, 1.300 cirurgias por mês. Enquanto isso, o Hospital de Restauração de Recife (PE), que possui 600 leitos, realiza 800 cirurgias mensais. A diferença, aponta Barbosa, é que Recife possui dois hospitais de alta complexidade.

Nos últimos quatro anos, o José Frota investiu mais de R$ 10 milhões para ampliar a estrutura. Está recebendo investimentos do Ministério da Saúde, através do SOS Emergência, o que possibilitou a contratação de 82 leitos de retaguarda. Ainda assim, a unidade conta com 78 pacientes sendo atendidos de forma precária nos corredores.

Falta alternativa

Barbosa deixa claro que o IJF não tem mais para onde expandir. "O nosso doente é eminentemente cirúrgico, de fratura, cirurgia buco-facial, neurocirurgia, plástica e vascular, o que está diretamente ligado à violência urbana, doméstica e no trânsito. São fatores que só aumentam a demanda. O problema é que não se criou nenhuma outra alternativa para atender esse aumento da demanda. O que precisamos é de outro hospital de alta complexidade", sugere.

Rommel Araújo, coordenador geral da emergência do HGF, comenta que os hospitais terciários se transformaram na porta de entrada do sistema de saúde, quando esta deveria ser a atenção básica. "Temos uma demanda cada vez mais crescente de pacientes internados nos corredores do HGF que poderiam estar em hospitais de média complexidade, se estes fossem resolutivos", destaca.

Manifestação no IJF



Assim como no IJF, o Hospital Geral também recebe uma demanda considerável de pacientes vindos do Interior. Eles correspondem a 35,3% dos que se internam na unidade. Se a atenção secundária que funcionasse, estima o gestor, esse percentual deveria ser de 2% a 3%.

Araújo acrescenta que é preciso rever, urgentemente, a média complexidade. "Se a gestão municipal não tiver a preocupação de criar essa rede complementar, nós vamos continuar transformando os hospitais terciários em porta de entrada do sistema de saúde. Essa pirâmide está invertida e isso gera uma série de problemas aos pacientes", diz.

O HGF possui, no primeiro andar da emergência, seis enfermarias, com 48 leitos. No segundo andar, na unidade de AVC, são mais 20 leitos, além de 14 na Unidade de Cuidados Especiais.

Atenção básica

Para Messias Barbosa, o problema da superlotação dos hospitais terciários não está ligado à atenção básica, pelo contrário, ele afirma que ela deu uma resposta muito boa quando diminuiu o número de atendimentos dos pacientes com acidente vascular cerebral (AVC) isquêmico.

Demanda
78 pacientes estavam, ontem, nos corredores do Instituto Doutor José Frota (IJF), à espera de um leito hospitalar. No HGF, este número era de 73 pessoas

Déficit na atenção básica é de 50 postos de saúde
A Política Nacional de Atenção Básica, do Ministério da Saúde, recomenda, na Portaria nº 648, de 28 de março de 2006, que, em grandes centros urbanos, exista, em média, um posto de saúde para cada 12 mil habitantes.

No caso de postos de saúde que não tenham equipe do Programa de Saúde da Família (PSF), a recomendação é que seja um posto para cada 30 mil habitantes. Em Fortaleza, são 92 postos, quando deveriam ser 142, o que representa déficit de 50 unidades básicas de saúde.

Lídia Costa, coordenadora da Célula de Atenção Básica da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), explica que, na falta da quantidade recomendada de postos de saúde na Capital, é natural que as pessoas que não consigam atendimento recorram aos locais onde existe a porta aberta para o atendimento. O que não significa dizer que seja uma falha da atenção básica, mas um problema do sistema de saúde como um todo.

A coordenadora esclarece que, mesmo com o avanço que o Sistema Único de Saúde (SUS) teve, os hospitais secundários têm de dividir a demanda de pacientes com a atenção básica. "A população criou o hábito de ir aos hospitais secundários", analisa Lídia.

Para minimizar a situação, a estratégia utilizada pela SMS foi de abrir 38, dos 92 postos de saúde, no período da noite, de 17h às 21h, e 20 deles aos sábados. Com isso, as crianças que por ventura adoeçam de noite, que antes só tinham a opção de ir aos hospitais secundários, agora contam com essa alternativa.

Para agravar a situação, o número de equipes do PSF também é insuficiente. Em 2005, a cobertura de equipes em Fortaleza era de 15%. Hoje é de 37%, representada pelas 256 equipes do que o município possui. Mesmo com a quantidade tendo mais que dobrado, Fortaleza não atinge sequer 50% de cobertura do Programa de Saúde da Família.

Lídia reconhece que o Município não tem a quantidade ideal de postos de saúde e nem de equipes do PSF para atender a demanda, mas destaca que houve avanços. Um deles foi a redução da mortalidade infantil, que passou de 22 óbitos para cada mil crianças nascidas vivas em 2004, para 12 óbitos para cada mil crianças nascidas vivas em 2010, o que, segundo afirma, é um indicador que avalia a qualidade da atenção básica.

Frotinhas

Messias Simões, diretor do Frotinha da Parangaba, comenta que os municípios polos não têm mantido o atendimento naquilo que lhes compete, com isso, tanto os hospitais secundários quanto os terciários acabam absorvendo essa demanda.

"Todas as regiões do Estado deveriam ser capazes de atender a média complexidade e, para Fortaleza, deveriam ser enviadas somente pessoas que necessitassem de atenção especializada", acredita.

Para o diretor, o problema é que os três Frotinhas que a Capital possui; de Messejana, Parangaba e do Antonio Bezerra, têm de atender a população de Fortaleza, de mais de 2 milhões e 400 mil habitantes, e mais os pacientes da Região Metropolitana, totalizando 5 milhões.

LUANA LIMAREPÓRTER

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