domingo, 6 de julho de 2008

IJF - Onde a cidade pulsa

IJF e a missão de aliviar a dor
A demanda do Sistema de Saúde é grande. Mas o paciente que procura o IJF, geralmente, não conseguiu acesso a outras unidades de saúde. "É preciso acolhê-lo”
O novo IJF foi construído em 1993. Após 15 anos, a superlotação é um dos problemas da principal unidade de saúde do Estado.
Na recepção do Instituto Dr. José Frota (IJF), a placa anuncia: "Hoje, aqui, encontrarás alívio na tua dor, conforto em tua aflição e assim acreditarás na força do teu valor de pessoa e cidadão!". A placa representa o sonho que nascia com a inauguração do novo IJF em sete de outubro de 1993. Na solenidade, o então prefeito Antônio Cambraia dizia que a antiga estrutura da Assistência Municipal já não se prestava mais a atender os 2 milhões de habitantes de Fortaleza, além dos pacientes vindos do Interior e de outros estados. O prefeito estimava que a nova estrutura seria capaz de atender um crescimento da demanda pelos 50 anos seguintes. Apenas sonho. Quinze anos se passaram. Há muito, a superlotação da unidade é rotina. Muitos pacientes que chegam à emergência do Frotão e se aglomeram nos corredores à espera de um leito têm a sensação de desamparo. Para o superintendente do Instituto, Wandemberg Rodrigues, os pacientes que não conseguem se alocar nos leitos da rede, naquele instante de dor, mesmo que esteja recebendo medicação, atenção, alimentação, vão estar desconfortáveis em cima de uma maca. Mas a culpa não é do IJF, ele diz. "Nesse desconforto, o paciente não analisa que isso é conseqüência do Sistema de Saúde. Ele tem a visão imediata de que aquela dificuldade é relacionada ao IJF. Não é. Ele veio para o IJF, porque não teve acesso e não teve disponibilidade em outro local", argumenta. Para o coordenador médico das Unidades de Terapias Intensivas (UTIs), Demóstenes Guerreiro, que está há 20 anos no Instituto, a carência dos outros hospitais é tão grande que gera essa superlotação. "O IJF acaba perdendo o perfil do hospital que deveria ser de alta complexidade. Hoje ele atende todas as patologias", lamenta. Conforme Wandemberg, mesmo não sendo seu perfil, o Instituto não tem como não atender. "Geralmente esses pacientes vêm recebendo não em outras instâncias. O IJF acolhe doentes na tentativa de solucionar problemas. As pessoas sabem que vêm pra cá e vão encontrar alguma resposta", afirmou o superintendente. Não é por acaso. O IJF conta com equipe especializada de plantão completa para o tratamento de traumas. Aparato difícil de se encontrar até em hospitais particulares, onde, geralmente, os plantonistas ficam de sobre-aviso. O problema se chama demanda, afirma Demóstenes. Ele defende que este é um hospital de referência, que funciona bem e a mortalidade não é tão alta. "É uma coisa bem interessante. Quando o paciente consegue o leito, tem essa percepção de que não é culpa do IJF. O hospital dá um suporte excelente. Por isso, os que conseguem se internar ficam agradecidos e se recuperam muito bem!", destaca Wandemberg. Diante da demanda excessiva, da expectativa de pacientes e familiares e dos desafios da instituição, a missão de salvar vidas se amplia. "(A missão) É aliviar a dor sempre. Independente de salvar ou não. Posso não salvar uma vida, mas tenho obrigação de amenizar a dor de um paciente, de uma família".
UM POUCO SOBRE A HISTÓRIA
Tudo começou com uma enfermaria na Santa Casa de Misericórdia, em 22 de agosto de 1932, com o Serviço de Pronto-Socorro de Fortaleza, idealizado pelo médico Amilcar Barca Perlon. O Serviço contava com um aparelho de raios-X e ambulância. No dia 31 de dezembro de 1936, o Serviço foi ampliado e transferido para o Hospital da Polícia Militar, na rua Princesa Isabel. As instalações ainda eram precárias, com salas estreitas, sem conforto. Tinha grande demanda de pacientes. Em 1940, a prefeitura transferiu o Pronto-Socorro para a Rua Senador Pompeu, próximo à atual Praça Clóvis Beviláqua, localização onde a unidade permanece até hoje
Assistência pública
No ano de 1970, na gestão do prefeito José Walter, a assistência pública passa a ser chamada de Instituto Dr. José Frota, em homenagem a um dos médicos do hospital.
Reforma
Desde então, o IJF passou por inúmeros reparos e reformas de pequeno porte. Passou a receber pacientes do Interior e de outros Estados. Nem a inauguração dos Frotinhas, que desafogariam a unidade, diminuiu a demanda. O Frotão continuava superlotado.
Ampliação
O “Projeto de Ampliação e Modernização do IJF” foi entregue a Juraci Magalhães em 1991. A entrega do hospital foi programada para setembro de 1992. Até a entrega definitiva, em outubro de 1993, houve quatro adiamentos. A obra foi executada em 18 meses.
Muita demanda para o IJF
Crescimento acelerado da população, da violência e dificuldade de obtenção de atendimento em outras unidades, em Fortaleza e na Região Metropolitana, são fatores freqüentemente citados como causas da grande demanda do Instituto Dr. José Frota (IJF). "Nesses anos, alguns hospitais grandes que atendiam ao Sistema Único de Saúde (SUS) fecharam. Houve redução no quantitativo de leitos. Ao mesmo tempo, houve crescimento muito grande na quantidade de automóveis e motocicletas. Isso passou a ser gerador de pacientes", descreve o superintendente do IJF, Wandemberg Rodrigues. Apesar de o problema ser rotina, parece difícil de ser resolvido. Conforme explica Wandemberg, uma das dificuldades é que não há outro hospital na rede com que o IJF possa compartilhar essa demanda. De acordo com o médico diarista das Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), Emanoel Castelo Branco, este é o único hospital que atende pacientes de alta complexidade, em caso de trauma. "Ele não foi planejado para atender o paciente de ambulatório. Mas quem tem a doença não consegue entender a complexidade do IJF. Nessa época de dengue, por exemplo, qualquer febre é dengue, é grave, é urgente", disse o médico. É preciso rever a estrutura da rede de saúde no Ceará. "Não digo que seria necessário construir novos hospitais. Mas se os hospitais das periferias aumentassem sua resolutividade, seria possível que chegassem ao IJF apenas os casos terciários", argumenta o coordenador médico das Unidades de Terapias Intensivas (UTIs), Demóstenes Guerreiro, 20 anos de IJF. Wandemberg concorda. Para ele, seria necessário que hospitais secundários de média complexidade fossem resolutivos, o que inclui hospitais pólos e distritais. "Seria necessário que tivéssemos uma rede de apoio de leitos para transferir pacientes de média complexidade. Às vezes, o leito existe, mas a unidade de saúde não tem estrutura para receber os doentes. Tem limitações", disse Wandemberg. Por outro lado, o superintendente destaca que existe sim a necessidade de um outro hospital do porte do IJF, na Região Metropolitana de Fortaleza, onde há uma grande demanda. "Realmente, conseguiria desafogar e muito. Seriam dois hospitais compartilhando".
jornal o povo 12/04/08

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