terça-feira, 8 de novembro de 2011

Emergência em Fortaleza

CE é destaque na formação
Ceará está na dianteira pelo reconhecimento da especialidade em emergência. Atuais e antigos gestores debatem sobre a superlotação nas emergências Nas emergências dos grandes hospitais públicos, há mais macas nos corredores que leitos (FOTOS EDIMAR SOARES) Nas emergências dos grandes hospitais públicos, há mais macas nos corredores que leitos (FOTOS EDIMAR SOARES)
Diante de um quadro de superlotação das emergências dos grandes hospitais, o Ceará figura posição de destaque na luta pelo reconhecimento da especialidade em Emergência. O Estado é o único do Norte e Nordeste e segundo no Brasil a oferecer residência de Medicina em Emergência. O outro estado é Porto Alegre.

A expectativa é que a formação desses profissionais acabe reforçando a luta para desafogar as emergências nos grandes hospitais. O POVO conversou com antigos e atuais gestores da saúde pública para lançar novas perspectivas para esse cenário de superlotação nas emergências.

A situação é grave e se repete ao longo dos anos sem uma resposta definitiva. Ontem, O POVO mostrou que o número de pacientes nos corredores chega a ser superior ao de leitos oferecidos nas emergências.

De acordo com o coordenador da turma de residência de medicina em emergência no Ceará, Frederico Arnaud, a formação de especialistas em emergência traz uma nova perspectiva para essa discussão. “A busca é por uma identidade. Atualmente, não existe vínculo afetivo ou cientifico com a área de emergência”.

Isso acaba refletindo na migração de profissionais nas emergências dos hospitais. “Com o reconhecimento da especialidade, poderemos lutar por melhorias nas condições físicas e científicas. Para ajudar a rede, o grupo tem de estar focado nessa área”.

Os quatro médicos da primeira turma de residência em Emergência se formaram esse ano. Em março, serão mais quatro. A previsão é de que em até dois anos a conscientização sobre a especialidade junto às classes médicas seja finalizado. O Conselho Federal de Medicina (CFM) deu parecer favorável.

Entretanto, nesse processo de conquista por melhorias na emergência, o Ceará sofre com a falta desse setor no hospital-escola. Desde 1992, a emergência do Hospital Universitário Walter Cantídio está fechada. Segundo o superintendente da unidade, Florentino Cardoso, não há previsão de reabertura. “O recurso federal que existe não é suficiente para a manutenção da emergência, por isso está fechada”, justifica. Ele acrescenta que o atendimento no hospital é exclusivo pelo Sistema Único de Saúde.

O quê

ENTENDA A NOTÍCIA

A construção de mais leitos de emergência é uma demanda real, mas não resolve. A falta de sincronia com a rede básica e secundária contribui na superlotação nos grandes hospitais. Ceará lidera discussão sobre reconhecimento da especialidade em Emergência.

Frases

Gestores divergem sobre responsabilidade da superlotação nas emergências


“Estamos cheios de pacientes do Interior no IJF e nos frotinhas. O município não tem condição de assumir mais nada. O Estado precisa agir”
 
Helly Ellery, coordenador da gestão hospitalar do Município

“Os hospitais estão superlotados porque atendem pacientes que não são do perfil de alta complexidade. Isso ocorre porque os pacientes não encontram vagas nos hospitais secundários ou postos de saúde”


Arruda Bastos, secretário estadual da Saúde 
Resumo da série

Tem mais paciente nos corredores do que nos leitos. O POVO visitou o IJF, HGF, Hospital de Messejana e Infantil Albert Sabin. Semana passada, eram 256 macas espalhadas pelos quatro hospitais de alta complexidade. O número acaba sendo superior ao total de leitos disponíveis para a emergência nessas unidades, que são 248. Em meio a esse cenário, o Ceará se destaca na luta pela especialidade médica em emergência. O Estado é o único do Norte e Nordeste e segundo do Brasil a oferecer residência de Medicina em Emergência. Formação desses profissionais pode reforçar a luta para desafogar as emergências.

Falta sincronia entre as redes básica, secundária e terciária

Mais leitos e maior sincronia entre a rede básica, secundária e terciária são apontados como as principais estratégias para reverter o cenário de superlotação nas emergências dos hospitais públicos da Capital. Segundo o deputado federal e ex-secretário estadual da Saúde, João Ananias, há uma desregulação entre a oferta de leitos e a demanda de pacientes.

“Chegam mais doentes graves do que os hospitais estão preparados para atender”, analisa. Ele aponta o fechamento da emergência do HUWC como um importante agravo desse cenário. “Ao invés de ampliação, tivemos foi a redução das emergências”, analisa. O subfinanciamento é outro ponto de destaque. “Faltam recursos para se investir mais”, classifica.

Sobre a melhor resolutividade nos hospitais de media complexidade, o ex-secretário da Saúde e diretor do Hospital São José, Anastácio Queiroz, levanta a discussão sobre melhoria no atendimento básico.

“Se não resolve na atenção primária, o paciente piora e vai para os hospitais terciários. Precisamos oferecer orientação adequada e agendamento de consultas dentro de um período recomendado para que o paciente possa ser avaliado sem ter complicações na intercorrência”. Anastácio propõe que todos os profissionais do Programa Saúde da Família passem por capacitações sistemáticas, garantindo uma educação continuada.

Falta consenso entre gestores


Aumentar o número de leitos é uma forma de melhorar o atendimento Aumentar o número de leitos é uma forma de melhorar o atendimento Estado e Município não chegam a um consenso sobre as causas que motivam essa situação. De um lado, o Estado reclama da presença de pacientes fora do perfil de alta complexidade.

Do outro lado, o Município acusa a alta demanda de encaminhamentos
do Interior.

Para o coordenador da gestão hospitalar do Município, Helly Ellery, o problema não é a sincronia da rede, mas a falta de hospitais que atendam os perfis da alta complexidade. Para ele, a construção de hospital na região metropolitana vai aliviar a demanda no IJF. A promessa da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) é que a nova unidade de saúde esteja pronta em 2013.
O Secretário estadual da Saúde, Arruda Bastos, aponta para a criação das unidades de pronto-atendimento (UPAs) como uma medida de curto prazo.

“O Estado se antecipou na construção de unidades que possam atuar diretamente na redução da superlotação das emergências”, classifica. A UPA de Maranguape foi inaugurada na semana passada e a previsão é de que as oito unidades espalhadas na Capital estejam em pleno funcionamento até o fim desse ano.

A ampliação dos leitos de retaguarda é apresentada também como estratégia. No Waldemar de Alcântara, por exemplo, foram 66 novos leitos. Já no Hospital da Policia Militar, serão mais 200 leitos.
Pelo Ministério da Saúde, o programa Saúde Toda Hora busca a integração dos serviços de urgência e emergência - com a maior comunicação entre as centrais de regulação do Samu, as UPAs, os Hospitais e as Unidades Básicas de Saúde. “A ideia é tornar o atendimento mais rápido e eficaz, reduzindo mortes ou sequelas ao paciente”, disse em nota o Ministério da Saúde. O programa prioriza o atendimento a traumas, problemas cardíacos e Acidente Vascular Encefálico.

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