segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Superlotação nos corredores

Macas tomam os corredores dos grandes hospitais públicos da Capital. Semana passada, 256 estavam no IJF, HGF, Hospital de Messejana e Albert Sabin
No Hospital de Messejana, a emergência foi ampliada, agora possui 100 leitos. Mesmo assim, 25 pessoas continuam nos corredores (FOTOS EDIMAR SOARES) No Hospital de Messejana, a emergência foi ampliada, agora possui 100 leitos. Mesmo assim, 25 pessoas continuam nos corredores (FOTOS EDIMAR SOARES)
Tem mais paciente nos corredores do que nos leitos de emergência dos grandes hospitais públicos da Capital. Na semana passada, eram 256 macas espalhadas entre o Instituto Doutor José Frota (IJF), Hospital Geral de Fortaleza (HGF), de Messejana (HM) e Infantil Albert Sabin (Hias). O número acaba sendo superior ao total de leitos disponíveis para a emergência nessas unidades, que são 248.

No IJF, por exemplo, eram 155 pacientes em macas pelos corredores. A ocupação é quase quatro vezes maior que a prevista no setor de emergência, que conta com 40 leitos. O POVO visitou as emergências dos quatro hospitais públicos terciários, ou seja, de alta complexidade, e verificou a peleja dos pacientes em conseguir vaga nos leitos. Gestores públicos reconhecem a gravidade da situação - que se repete ao longo dos anos.

No único hospital terciário de trauma do Estado, o IJF, tem paciente que aguarda há um mês por cirurgia. O elevado número de macas pelos corredores impressiona. São, na maioria, motociclistas ou idosos, traumatizados, em busca de cirurgia. Cerca de 50% da demanda vem do Interior. A superlotação é tamanha que, em alguns momentos, os maqueiros têm dificuldade em circular com os pacientes que precisam realizar exames de imagem.

O diretor executivo Casemiro Dutra alerta que o envelhecimento da população e o aumento da violência no trânsito têm impacto direto na demanda. Ele explica que o aumento de leitos de emergência na unidade pode ser uma solução perigosa. “A concentração é perigosa, devemos atuar no processo de descentralização. Não é justo o paciente sair de um município longe para conseguir atendimento de politraumatismo”.

No HGF, o cenário de superlotação é semelhante. Pacientes são divididos por especialidade em um imenso salão que deveria servir como recepção da unidade. Durante o dia, o sol que passa pelos imensos janelões de vidro incomoda os pacientes. Quase não há espaço para os acompanhantes, que dividem o banheiro com pacientes.

Acidente vasculares cerebral (AVC), doenças renais,neurológicas e digestivas são as mais comuns. O diretor geral Zózimo Medeiros atenta para o número de pacientes fora do perfil de gravidade que chega à unidade. “É preciso fortalecer o acolhimento com classificação de risco. Muitos pacientes deveriam estar na rede secundária”, alerta.

Pacientes graves com doenças pulmonares e cardíacas se acumulam também nos corredores do Hospital de Messejana. Recentemente, a unidade ganhou uma ampliação na emergência. O número de leitos dobrou, chegando a 100 vagas. Porém, a demanda continua sendo maior que a prevista. Cerca de 25 pessoas estão nos corredores.

A diretora geral Socorro Martins ressalta a importância do fortalecimento da rede básica e secundária para garantir que o paciente crônico consiga tardar cada vez mais sua ida ao hospital.

As crianças não estão imunes a essa questão. No Hospital Infantil Albert Sabin, cerca de seis crianças e adolescentes estão nos corredores. Entretanto, os pacientes ficam em camas hospitalares e não em macas – como nas demais unidades de atenção terciária.

O diretor do Hias, Rogério Menezes, explica que o segundo semestre é considerado menos crítico. Mesmo assim, a demanda é superior ao número de leitos. São apenas 12. No primeiro semestre, época de maior incidência de doenças virais, a emergência chega a abrigar 30 pacientes.

O quê

ENTENDA A NOTÍCIA

A situação de superlotação nas emergências se repete nos quatro hospitais de alta complexidade da Capital. Ao todo, existem mais macas nos corredores do que leitos de emergência. O POVO acompanhou a dificuldade dos pacientes conseguirem vaga. Gestores públicos reconhecem a gravidade da situação - que não é nova.

Saiba Mais

Atenção primária
Também denominada de atenção básica se refere à assistência preventiva e de controle de doenças como diabetes, hipertensão. Atende casos de gripe, diarreia, lesões simples de pele, dor de cabeça, faz hidratação oral e venosa, prevenção ginecológica. O atendimento é prestado nas unidades básicas de saúde (postos de saúde) e pelas equipes do Programa Saúde da Família.

Atenção secundária
O atendimento é oferecido nos hospitais secundários e centro de especialidades médicas. Em Fortaleza, a população dispõe desse serviço nos hospitais Gonzaguinhas do José Walter, de Messejana e da Barra do Ceará; nos Frotinhas da Parangaba, Messejana e Antônio Bezerra; e no Hospital Nossa Senhora da Conceição.

Atenção terciária
O atendimento é constituído por serviços ambulatoriais e hospitalares especializados de alta complexidade e alto custo, tais como serviços de urgência e emergência e atenção ao paciente grave. São considerados hospitais de alta complexidade: Instituto José Frota (IJF), Hospital Geral de Fortaleza (HGF), Hospital de Messejana e Hospital Infantil Albert Sabin (Hias).

Raio X das emergências
Instituto Dr. José Frota (IJF)
Número de leitos de emergência - 40
Macas no corredor - 155
Situação - as macas com pacientes vão se acumulando nos corredores do hospital. Muitas pessoas acabam finalizando o atendimento sem passar por um leito de emergência. Maqueiros tem dificuldade em circular com pacientes que precisam ser encaminhados a exames.


Hospital Geral de Fortaleza (HGF)
Número de leitos - 96
Macas no corredor - 70
Situação - a área que deveria ser para a recepção acaba abrigando dezenas de pacientes em macas. Cerca de 70 pessoas de várias especialidades se aglomeram no pátio. De dia, o sol forte acaba incomodando os pacientes e deixando a área mais quente. Acompanhantes improvisam com lençóis nas janelas como tentativa para amenizar a situação.

Hospital de Messejana (HM)
Número de leitos - 100
Macas no corredor - 25
Situação - mesmo com a ampliação no número de leitos de emergência, a situação ainda é preocupante. Cerca de 25 pacientes precisam ficar nos corredores aguardando vaga nos leitos. Pacientes com doenças respiratórias e cardíacas ficam na mesma área, aumentando as chances de infecção.

Hospital Infantil Albert Sabin (Hias)
Número de leitos - 12
Macas no corredor - 6
Situação - mesmo sendo considerado um período tranquilo – já que muitas das doenças infantis se apresentam sazonalmente – existem crianças aguardando por leito nos corredores do hospital. No primeiro semestre, quando se intensificam as doenças virais, a emergência chega a acumular 30 crianças nos corredores.

248 - Número de leitos de emergência
256 - Número de macas nos corredores
504 - Total de pacientes na emergência
 
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O Ceará é o único do Norte e Nordeste e segundo do Brasil a oferecer residência em Emergência. A luta é para que essa especialidade seja reconhecida. Antigos e atuais gestores da saúde pública falam sobre ações rápidas e práticas para reverter a situação de superlotação nas emergências.

Viviane Gonçalves
vivi@opovo.com.br

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