quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Sem médico, pediatria do Frotinha fecha

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Saúde agoniza: os nove pediatras do Frotinha de Antônio Bezerra não dão conta da quantidade de pacientes; o atendimento está reduzindo a demanda total em até 50%
KID JUNIOR

Pela falta de especialistas, diretoria está encaminhando crianças para o Gonzaguinha da Barra
O olhar sofrido do pequeno Mateus Vinicius Barroso, 9, revela o cansaço de quem já peregrinado por dois postos de saúde e achava que no Hospital Distrital Evandro Aires de Moura, conhecido como Frotinha de Antônio Bezerra, iria encontrar alívio para as dores de cabeça que lhe atormentam há semanas.

Para a surpresa do garoto e de outras dezenas de doentes, a pediatria fechou as portas em definitivo, não havia especialista de plantão no local ontem. A direção está sugerindo o encaminhando dos pacientes mais graves para o Gonzaguinha da Barra do Ceará, 18 km de distância.

Demanda
Conforme o diretor clínico do Frotinha, Marcus Almeida, o processo de desativação não é recente, já vem há dois anos. No quadro de pediatras, a defasagem é grande, afirma. "Teríamos que ter 18 especialistas, mas, no momento, só estamos com nove servidores que não dão contam da demanda e vão ser remanejados. É angustiante ter que ver as crianças voltando sem atendimento", desabafa. Para o diretor, a falta de profissionais especializados nesta área é uma realidade já bem conhecida do serviço público.

Concursados já teriam sido chamados mas não atenderam a convocatória. Segundo Almeida, quando todos os médicos estão no plantão, são realizados uma média de 600 procedimentos por dia, 18 mil a cada mês.

Com a escassez, o atendimento no Frotinha está reduzindo a demanda total em até 50%. No fim do ano passado, a enfermaria infantil já havia sido desativada e agora as internações de crianças não estão mais sendo feitas. "Os oito leitos da pediatria vão para os pacientes da clínica geral. Estamos recambiando tudo", lamenta.

Quando recebeu a notícia do fechamento, a dona de casa Andressa Átila não se conteve em lágrimas, não sabia onde iria tratar o filho, de apenas quatro meses, que sentia fortes dores abdominais. "Criança tinha que ser prioridade e não ficar sendo jogada de hospital em hospital", diz. Durante cerca de 20 minutos que a equipe de reportagem esteve na porta da emergência do Frotinha, oito crianças voltaram para a casa sem atendimento especializado.

No entanto, a problemática da falta de profissionais não se reduz a área da pediatria, afirma o diretor clínico da unidade de saúde. Ontem à tarde, não havia também clínico geral no plantão. "Temos uma necessidade de 18 clínicos, só tem dez, mas nem todos estão na ativa", diz. Faltam médicos na segunda à noite, terça-feira de manhã e tarde, quinta-feira à noite e durante toda a sexta-feira.

Segundo o coordenador de gestão hospitalar da Prefeitura, Helly Ellery, ampliações estão previstas. "A taxa de ocupação dos leitos em pediatria tem sido baixa, cerca de 40%. Alguns profissionais serão remanejados e nenhuma paciente deixará de ser atendido", informa.

PREFEITURA
Baixo salário oferecido tem afastado os profissionais
A gestão municipal aponta a falta de profissionais como um dos principais motivos para o fechamento das pediatrias na rede pública. Já, a Cooperativa dos Pediatras do Ceará (COOPED-CE) refuta a informação e diz que a culpa são os baixos salários oferecidos e a precariedade da estrutura de trabalho.

"Este fenômeno da escassez de pediatras é uma realidade no País inteiro. A sobrecarga de atendimento é grande e a remuneração não é um atrativo. O piso do médico está preconizado nacionalmente em cerca de R$ 9 mil e em Fortaleza pagam muito menos que a metade disto", afirma o presidente da Cooperativa, pediatra João Borges.

Prova disto é a convocatória do último concurso municipal para a área, afirma o coordenador de gestão hospitalar, Helly Ellery. "Chamamos 20 aprovados e até agora só oito apareceram. Vamos nos planejar para trabalhar com o que temos e remanejá-los. Oferecemos salários adequados, sim",diz.

Para Borges, a grande demanda de trabalho e a má condição de atuação nas emergências públicas são alguns dos fatores de repulsa. "A gente percebe queda do interesse já na graduação. Antes 13% dos alunos saiam da faculdade direto para a residência pediátrica. Hoje menos de 9% desses graduados topam a carreira, tanto na rede pública como na privada", ressalta.

IVNA GIRÃO
REPÓRTER

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